Paralelas que se encontram

As aventuras de uma carioca, um galego e um gato maluco na maior cidade da América Latina - e no primeiro blog galego-brasileiro!

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Machado de Assis, a reforma ortográfica e a bunda

Completam-se hoje 100 anos da morte de Machado de Assis. Como 'comemoração' da data, o presidente Lula (que ironia...) assinou um decreto com o cronograma de implantação do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa no Brasil. As reformas entram em vigor a partir do ano que vem, e tornam-se obrigatórias em 2012. Como amante dessa língua tão cheia de encantos e dificuldades, posso dizer que, na teoria, até sou a favor do acordo. Afinal, a idéia de 210 milhões de pessoas de oito países lendo e escrevendo da mesma maneira é realmente fascinante. Na prática, entretanto, não consigo me convencer disso. Talvez seja pelo fato de que sempre fui ferrenha defensora do trema, esse acento tão desprezado e, na minha opinião, tão importante. A partir do ano que vem, quando os simpáticos pinguinhos em cima do 'u' serão oficialmente banidos, como você vai explicar para um estrangeiro que linguiça e enguiçar têm pronúncias diferentes apesar da grafia idêntica do 'gui'? Como você vai convencer um espanhol que a pronúncia de jiboia (nossa antiga jibóia) é aberta, e não fechada como ele fatalmente fará ao ler a palavra? A proposta da reforma é nobre: incentivar o intercâmbio entre as nações que falam português, dispensando a necessidade de revisão de livros que circulam nesses países. Ok, mas como resolver então o 'problema' da enorme diferença de vocabulário, já que cada país guarda as suas peculiaridades? Aqui, onde a língua se formou sob influência de índios, africanos, italianos, franceses e etcéteras, temos palavras quase únicas, como as genuinamente brasileiras bunda, quizumba, muvuca. É ou não é um abacaxi (ou ananás para os portugueses)?

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