Paralelas que se encontram

As aventuras de uma carioca, um galego e um gato maluco na maior cidade da América Latina - e no primeiro blog galego-brasileiro!

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

A eterna luta de classes?

Estava eu hoje voltando para casa, no fim da tarde, quando presenciei uma situação curiosa. Primeiro deixe-me situar a cena. Eu estava no terminal Princesa Isabel, centrão de São Paulo (coisa fina, não me perguntem o que eu estava fazendo lá), esperando um ônibus. Como o que eu queria não passava de jeito nenhum (alguém já ouviu falar de um cara chamado Murphy?), acabei pegando outra linha. Depois de sacolejar quase a ponto de cair, consegui finalmente me sentar. Enquanto me acomodava (se é que é possível usar esse verbo), dei de cara com algo verde e nojentamente grande que certamente saíra há pouco do nariz de um ser pouco iluminado. Estava ali, bem grudadinho na janela do ônibus, cara a cara com o pobre passageiro que ali se sentasse - no caso, eu. Mudei de lugar. Fui para um assento na frente do cobrador (antes cara a cara com ele do que com uma meleca, não?). E ali não pude deixar de notar o mau humor com que ele falava com quem passava por sua catraca. Pois bem, é aí que começa a tal situação curiosa. Alguns minutos depois de o ônibus ter passado pelo metrô Santa Cecília, uma bem vestida senhora de 40 e poucos anos levanta esbaforida e vai pedir ao simpático cobrador para descer. "Preciso pegar o metrô", exclamava ela, com um certo desespero de quem não está muito acostumado a andar de ônibus. Tudo o que nosso gentil cobrador fez foi olhá-la de cima em baixo, analisando seu visual impecavelmente arrumado (das sapatilhas da última moda ao cabelo chanel bem cortado). "Não pode parar fora do ponto", resumiu-se ele a dizer. Ela pediu, suplicou, quase chorou, mas não teve jeito. Já conformada, a otimista senhora lhe perguntou se o ônibus parava perto de outra estação de metrô. Novamente monossilábico, ele respondeu que não sabia. (um parênteses óbvio: como que o cara que passa o dia, a vida, fazendo o mesmo trajeto poderia não saber???) Mais de um quilômetro depois, a elegante passageira decidiu descer (dessa vez no ponto) e voltar caminhando até o Santa Cecília. Sacanagem, pensei eu, é claro que o cara sabia onde ficava o próximo metrô. Mas a sacanagem não parou por aí, não. Quando nos aproximávamos na Praça da República, um outro passageiro lhe perguntou onde ficava uma determinada rua. Era um rapaz de uns 30 anos, usando calça jeans furada e uma camisa branca encardida. Nas mãos levava uma malinha pequena, daquelas geralmente usadas por trabalhadores da construção. O rosto suado e o modo de falar também entregavam que tratava-se de uma pessoa humilde. Pois não é que o cobrador ordenou que o motorista parasse, no meio da rua, em plena Praça da República (fora do ponto, claro!) e, antes do rapaz descer, ainda lhe explicou como chegar ao endereço desejado?! Se uma perua rica e bem vestida esnoba um maltrapilho na rua, certamente é tachada de preconceituosa. Nesse caso, do que poderia ser qualificado o rapaz da catraca?

3 comentários:

Jacobo disse...

Bem feito. O dinheiro não pode comprar tudo. Muahhahaha!

Gláucia Santinello disse...

Ju, eu entendi... e tals. Mas tenho que concordar com o Jacobo: bem-feito. rs rs rs rs rs
Pq rico quando quer ser esnobe é de matar tbém.. rs rs rs

Juliana Veronese disse...

Mas aí é que está o ponto, gente! A senhorinha foi super simpática e educada!! Em nenhum momento ela tentou dar uma de superior, pelo contrário, estava pedindo pro cara ensiná-la onde era o metrô! E outra, a moça estava beeeeeeeeem longe de ser uma perua ricaça (essas não anda de busão nunca, né?!); era gente como a gente (rsrsrsrs), se vestia bem e tal, mas nada de super grifes! Ela não vestia Prada!! E mesmo que vestisse, pô, isso é motivo pra ser destratada? Que isso minha gente?!